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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

A CIGARRA E A FORMIGA SÉCULO XXI

EU como a maioria das pessoas carrego tendências multifocais. Estive sendo formiga por grande parte da minha vida. Na escola, na família, em sociedade. Bem comportada, mesmo resmungando às vezes.  Gostava da escola, sempre gostei de escola. E ao crescer fui trabalhar como todo mundo que precisa ganhar a vida. Fui ser bancária...me adaptei ao formigueiro, cheio de carimbos, recibos, máquinas de escrever,de somar, telefones...meu lado cigarra ficava para as horas livres do trabalho e da faculdade. Tinha vontade de ser musicista ou cantora, mas me contentei em comprar discos. Gostaria de ter sido bailarina mas virei espectadora. Adorava escrever, virei leitora, o desejo de ser cineasta me transformou em cinéfila...sempre do lado de cá, a formiga espiando as cigarras, pagando ingresso para vê-las. E para ser uma formiga culta era preciso acompanhar as cigarras, as cigarras escritoras, artistas de todas as artes...
Hoje sou uma formiga aposentada, usufruindo dos valores acumulados no formigueiro, aquelas folhas cortadas e carregadas na cabeça para alimentar uma rainha grandalhona e procriadora. Com as migalhas me estabeleci num apartamento, com livros, discos e conforto. Tenho o que comer e como pagar minhas contas...mas agora nem tenho mais vontade de brincar de cigarra...muitas cigarras se revelaram vazias, com brilho artificial, com vozes desafinadas, com obras exibicionistas e sem muito recheio...Não, não é inveja de formiga bancária frustrada. É só maturidade. Nem cigarra, nem formiga.

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